AUTO-RELATO DE UM CIGARRO


Na maior parte do tempo sou fumaça
Dissipo no calor dos teus abraços
Até respirar fundo ameaça
Qualquer toque desmancha os laços.

Restaram os dias que sou brasa
Fervo incompreendido na alma
Distraída e leve queimo e vazo
Tornando difícil os dias de quem ama.

No chão um monte de cinzas
Misturam-se com a poeira
Das pedras dos meus sapatos.

Um último trago na soleira
Da porta, considerando os fatos
De que sou feito de camadas.

J. Mário Cavalcante



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